Todos sabemos que poesia e música andam de mãos dadas há muito tempo. Marcas musicais na poesia são notáveis, de modo que as antigas estruturas de poemas eram justamente direcionadas à sonoridade destes. Duas provas cabais são as elisões e a contagem de sílabas poéticas (que não são necessariamente as gramaticais). Ademais, ainda temos paranomásias, assonâncias, aliterações e cacofonias que são muito apreciadas por muitos amantes da poesia, já que misturam a visão com a audição. Eu desenvolvo estas figuras neste post.
Podemos explicitar a musicalidade na poesia em diferentes épocas, contextos e autores:
Note a estrutura (o esqueleto) do poema. Os versos são na medida velha (redondilho maior), com rimas cruzadas (repetição do fonema "em"), que vêm justamente dar maior força (sonora) ao verso reiterado, que é justamente o que se destaca no poema: "só Arminda e mais ninguém". Certamente você observou semelhanças com a esfera de ideais bucólicos neoclássicos, mesmo que não se tratem de versos decassílabos (muito mais comuns para o movimento literário em questão). Para se ter uma ideia do poema ouvido, seguido de uns comentários, clique aqui.
Podemos explicitar a musicalidade na poesia em diferentes épocas, contextos e autores:
"Protestos a Arminda
Conheço muitas pastoras
Que beleza e graça têm,
Mas é uma só que eu amo
Só Arminda e mais ninguém.
Revolvam meu coração
Procurem meu peito bem,
Verão estar dentro dele
Só Arminda e mais ninguém.
De tantas, quantas belezas
Os meus ternos olhos veem,
Nenhuma outra me agrada
Só Arminda e mais ninguém.
Estes suspiros que eu solto
Vão buscar meu doce bem,
É causa dos meus suspiros
Só Arminda e mais ninguém.
Os segredos de meu peito
Guardá-los nele convém,
Guardá-los aonde os veja
Só Arminda e mais ninguém.
Não cuidem que a mim me importa
Parecer às outras bem,
Basta que de mim se agrade
Só Arminda e mais ninguém.
Não me alegra, ou me desgosta
Doutra o mimo, ou o desdém,
Satisfaz-me e me contenta
Só Arminda e mais ninguém.
Cantem os outros pastores
Outras pastoras também,
Que eu canto e cantarei sempre
Só Arminda e mais ninguém."
(Viola de Lereno, 1980.)
Note a estrutura (o esqueleto) do poema. Os versos são na medida velha (redondilho maior), com rimas cruzadas (repetição do fonema "em"), que vêm justamente dar maior força (sonora) ao verso reiterado, que é justamente o que se destaca no poema: "só Arminda e mais ninguém". Certamente você observou semelhanças com a esfera de ideais bucólicos neoclássicos, mesmo que não se tratem de versos decassílabos (muito mais comuns para o movimento literário em questão). Para se ter uma ideia do poema ouvido, seguido de uns comentários, clique aqui.
ALEXANDRE MENDONÇA
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