Quanto tempo, pessoal! Fiquem aí com um texto meu que estava perdido num caderno velho.
"Às Vezes
Às vezes, aquela pessoa que observa o mundo da janela pode conhecer melhor o chão do que quem nele pisa. A água melhor do que quem nela nada. O beijo melhor do que quem (de olhos fechados) beija.
Às vezes, aquele menino que chora com cara de indignação, joga o buquê de rosas no chão e sai correndo pode ter sido o único que amou de verdade, pois foi o único que sofreu e que foi verdadeiro.
Às vezes, aquele que bate os olhos nos meus versos e que sorri amarelamente por dentro queria amar alguém como metade. Não da laranja, ácida por si só. Mas como um cubo de gelo, que ninguém há de secar e constantemente se renova: não cai na mesmice. Talvez queira acreditar no amor. Às vezes quer realmente acreditar que vai um dia tropeçar em alguém que vá mudar sua vida. Mesmo que diga que não é mais bobo e tenha cinquenta anos nas costas.
Faz frio nessa noite escura. E não vejo mais aquele casal de mãos dadas caçando vaga-lumes. Não vejo mais aquele senhor de barba branca pescando. Não vejo mais a criança do nariz escorrendo brincando de pega-pega com sua prima de segundo grau, com quem inclusive teve seu primeiro beijo.
Não vejo mais aquelas árvores cujas copas farfalhavam, anunciando romances de verão, intensos e passageiros. Não vejo mais o contador de histórias na praça da cidade, que inebriava o senso de realidade dos meninos de rua. Não vejo mais D. Cecília e seus gostosos sonhos: ir para a Europa e outro com muito creme.
Todos morreram.
Às vezes, fui eu quem os matou.
Talvez porque fechei os olhos ao mundo, abdicando de suas delícias
Ou então porque abri os olhos ao mundo, tendo ciência de suas dores.
A última que morre? Morreu...
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