Entrincheirado entre cobertas e os teus pés gelados,
Sinto o vento suave saciando minha sede da cidade...
A janela está aberta.
Uma voz fina desafina no meu ouvido, sussurrando malícias.
Toca um jazz que sempre nos deixa mais apaixonados, e a respiração mais profunda,
Passam das três e meia da manhã e a noite não demonstra indícios de que vai acabar.
A criatividade segue aumentando enquanto você vai me beijando,
E teu sotaque segue me excitando.
Cabelo macio, de doce cheiro, num corpo violão que vive me tentando, e conseguindo...
Minha mão, de teus tornozelos aos cabelos, vai as minhas intenções realizando,
Por toda extensão do teu corpo,
sensualmente indefeso,
levemente moreno, que fiz questão de sujar de vermelho.
E que batom era esse? Uma projeção de lábios numa infinitude de sedução,
Que, junto àquele sorriso acanhado, segue me inebriando.
O céu está limpo. Só há a Lua boiando nesse mar de edifícios...
A cama está bagunçada. Só há nós dois boiando nesse mar de precipícios,
Em que eu me mergulho de cabeça e você nada borboleta, ou ficamos no crawl.
E se os sentidos se divergem, é porque as intenções convergem,
À meia luz as incertezas são esquecidas e dão lugar à curiosidade,
E, por que não, obscenidade.
Loucura?
Insanidade!
Traçar estes versos tendo a certeza de que você fica linda até dormindo,
É até maldade te dar um último beijo na boca no domingo e atravessar a cidade,
De volta ao cambiante e movimentado cotidiano,
Que bem encena o tempo e sua fugacidade,
Sem, no entanto, contar para nós,
Que muito da verdadeira felicidade está nuns momentos filosoficamente quase estáticos,
Gerando, sempre, emoções fortes e às vezes até a morte.
A melhor delas, aliás.
Morrer de prazer."
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