A Carolina - Machado de Assis

                    

     Este soneto foi escrito pouco tempo depois do falecimento de sua esposa, Carolina, e pouco tempo antes de ele morrer também.

"A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos." 

Machado de Assis

            Segue a minha leitura que fiz na semana passada. A gravação não está nota 10, mas dá para entender direitinho. A música de fundo é None But The Lonely Hearts, de Thaikovsky.

Pequena dissertação sobre o soneto

          Tenho por mim que, claramente, que há muita tristeza nos versos de Machado de Assis. Algo que contrasta com seu estilo na prosa, ousado e em muitas vezes irônico. Ele empregou em algumas de suas obras até mesmo o estilo digressivo. Esse soneto é quase que uma lamentação bem trabalhada em  catorze versos decassílabos, que exprimem muita solidão e uma pitada de melancolia. Sob o túmulo de sua amada mulher, Machado ia visitar sempre, levando-lhe seu coração (ou seja, o coração era só dela e de mais ninguém). O afeto verdadeiro dele fez a existência deles apetecida  A terra de que ele trouxe flores à ela (que descansa da longa vida) promoveu sua união e sua separação. E que ele, se tem naqueles olhos cansados e tristes pensamentos de situações da vida, são de coisas que ele pensou e passou. Ou seja, lembra de tudo o que eles passaram juntos, em meio a lágrimas e sob o túmulo de sua única amada. 

créditos da imagem : http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Machado_de_Assis_aos_57_anos.jpg